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quinta-feira, 18 de junho de 2009

O primeiro registro

Tive a ideia a alguns dias, mas hoje decidi criar esse espaço para compartilhar um pouco sobre teatro.

Tenho como objetivo principal no uso desse espaço, escrever minhas impressões sobre espetáculos teatrais que tenho assistido. Portanto não se trata de críticas e tentarei evitar ao extremo a exposição de meu gosto pessoal, já que gosto não se discute e há sempre aspectos artísticos a serem considerados em qualquer obra teatral.

Agora são pouco mais de 1h da manhã. Eu já estava indo pra cama, mas resolvi voltar, pois não há data melhor do que hoje para iniciar esse registro: acabo de assistir ao espetáculo PODE SER QUE SEJA SÓ O LEITEIRO LÁ FORA, que tem texto de Caio Fernando Abreu.

Para mim, a data é especial, pois é a primeira vez que assisto a uma outra montagem do primeiro texto no qual atuei. Isso foi em 2002, ainda numa estrutura de escola de teatro (Escola Don Quijote do Amanhã).

Essa montagem que acabo de conferir no Casarão do Belvedere (São Paulo), teve direção de Thiago Kozonoi e no elenco estavam: Daniel Grobman Machado, Emerson Grotti, Ednei Batista, Lívia Sales, Marina Sousa, Priscila Clemente e Tainah Brandão.

Trata-se da história de um grupo de amigos que se abrigam do frio e da chuva em uma casa abandonada. Lá expõem conflitos pessoais e coletivos. Após tomarem um chá "de ervas orientais", começam uma viagem alucinógena que coloca em xeque a identidade de cada um, crenças, sentido da vida etc.

É muitíssimo estranho pensar uma visão desse texto tão diferente da que tivemos na época da montagem. Não vou falar muito do processo que vivi, mas tenho a impressão de que a apropriação do conteúdo foi muitíssimo diferente. Um exemplo: na montagem de hoje, não senti espaço para piadas, quando creio que o texto possui inúmeras! Mas ao mesmo tempo, foi ressaltada uma relação entre dois personagens (Léo e João) que considero mais rica do que a de nossa montagem (até mesmo considerando que adaptamos o texto eliminando o João).

Eu não poderia deixar de falar sobre Alice Cooper, o personagem que interpretei. Na nossa concepção, ele era uma figura central do espetáculo, capaz de mudar rumos na história. Um bissexual que se traveste de Alice Cooper (um roqueiro, ainda vivo, marcado por figurinos sempre muito pesados e o rosto pintado), mas mantém um gosto elevado por cores. Nossa concepção era de um homem muito andrógeno.

Minha decepção em relação a Alice Cooper, foi ver uma menina toda vestida de preto o intepretando. Ela apenas fazia menção ao gosto dele pelas cores.

Essa impressão se deu em relação a toda a criação. Em alguns momentos, eu apenas via texto em cena. Mas e a vida do teatro? E a criação do ator?

A partir da alucinação, há uma fala que diz que dali em diante tudo é possível. E parece que aqueles artistas quiseram colocar tudo em cena. Uma certa confusão mesmo. E um final totalmente criado por eles, que quebrava com a proposta de Caio e deixou o público meio sem ação, já que os atores levavam uma bronca de um senhor que aparecia do nada dizendo que faziam muito barulho. Eles recolhiam seus objetos de cena, pediam desculpas ao público e saíam. Essa relação final com o público, soou falsa, pois parecia forjada, já que se tratava do final (sendo que ela não existiu em nenhum momento do trabalho).

Respeito as opções. Acho meio descabido o final, mas essa é apenas a minha visão. Prefiro evitar opções mais realistas no teatro, pois acho que, diferentemente da TV e da grande maioria do cinema, o teatro é uma linguagem que permite outros tipos de experimentação.

Se me perguntassem o que ficou para mim desse espetáculo, eu diria: a sensação de que a ideia de Caio não foi bem explorada, pois não ficou exaltada a crítica que ele faz ao mundo atual de guerras e destruição em massa. Acredito que um caminho pra isso seria reduzir textos, aprofundar melhor o conteúdo de cada personagem (um Alice Cooper que adora luzes, purpurina, a cor vermelha, jamais poderia ter um figurino de roqueiro apenas) e objetivar significativamente o momento de alucinação.

Por hoje, acho que basta. E como diria Alice Cooper (pelo menos o meu, usando as palavras de Caio): Forças!!!

Já vou deixar meu registro sobre alguns espetáculos que pretendo comentar em breve: Jogando no Quintal e Caleidoscópio (ambos do grupo Jogando no Quintal), Calendário das Pedras (de Denise Stoklos), Caminhos (que assisti ontem. Com direção de Chrisiane Paoli Quito - preciso checar se escrevi seu nome corretamente) e Agreste (direção de Márcio Aurélio).

Forças!!! (de novo)

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