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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

TEMPO: A ARTE DA PERCEPÇÃO


Você já notou que uma mesma piada pode ser extremamente engraçada quando contada por uma pessoa e sem graça por outra? Por que isso acontece? Já ouviu falar em tempo da comédia?

Como ator, a busca por tais respostas me levou a estudar a linguagem artística do palhaço. Em determinado momento como artista, percebi que eu sempre acabava buscando um tom cômico aos personagens que eu representava, até mesmo aos mais dramáticos. Esse tempo da comédia, ou seja, a medida exata de se relacionar com o público ao contar a piada, sempre foi o meu foco de estudo com o palhaço, embora eu soubesse que por esse caminho eu poderia me apropriar melhor de uma experiência que também me abriria ao tempo do drama. Opa... Na verdade minha pesquisa real era pelo TEMPO pura e simplesmente.

Desde criança, meus tempos eram mais longos quando comparados aos de meus amiguinhos; demorei muito para aprender a amarrar o cadarço de meus sapatos, demorei a me livrar das rodinhas adicionais da bicicleta, e o mais interessante: parecia impossível aprender a ver as horas no relógio de ponteiros – eu achava que nunca ia conseguir. Hoje fica bem mais fácil compreender que naquele momento, quando eu tinha por volta de 5 anos de idade, eu expressava a ansiedade e o medo de não conseguir, o que dificultava tudo.

O que parecia uma eternidade naquela época, hoje vejo que não passava de alguns dias. Naquele momento, minha referência era exclusivamente a experiência do outro e aquilo roubava minha energia a ponto de eu me sentir incapaz. A percepção sobre o tempo do menino de 5 anos é totalmente diferente da percepção do adulto de hoje e isso não é problema!

Mas voltemos ao teatro. Há dois nomes importantíssimos no cenário teatral: o russo Constantin Stanislavski, com sua teoria mais visceral, que propõe o envolvimento do ator com o personagem; e o alemão Bertolt Brecht, que traz o distanciamento como o caminho para uma presença em cena com mais consciência (inclusive substituindo a palavra personagem por persona – remetendo-nos mais a um estado de espírito). É comum ouvirmos entendimentos de que um é favor do drama e o outro é contrário a ele.

Não dá para ser a favor ou contra algo natural. O drama faz parte da vida. A arte por si só, enquanto metáfora da vida, prova isso: não existem artes cênicas sem dramaturgia, sem o drama (é importante não confundirmos drama com melodrama). E na vida a questão não é a existência ou não do drama e sim nossa capacidade de transitar entre o envolvimento e o des-envolvimento em relação a ele.

Portanto, as teorias teatrais aqui rapidamente expostas não podem ser consideradas opostas, mas complementares: se não houver envolvimento, como é possível dar vida a um espetáculo? Se não houver distanciamento, como é possível separar o artista de sua arte? A questão é encontrar a medida exata de cada uma, o tempo de cada uma. Tempo? Sim: TEMPO É A ARTE DA PERCEPÇÃO.

O teatro é uma ótima escola de percepção (não é à toa que a palavra teatro signifique o que se vê). Uma apresentação teatral nunca é igual à outra porque cada nova sessão é uma experiência energética diferente. Quanto mais o ator se apropria da energia envolvida, mais consciência tem em cena.

Trazendo essa metáfora do teatro para nossa vida cotidiana, e tendo em vista que a palavra ATOR nos remete à ação, que tal nos observarmos como atores de nossas próprias vidas? Será que não nos envolvemos demais ou dramatizamos exageradamente determinadas situações?

Diante de um problema, o envolvimento excessivo nos cega e o distanciamento demasiado se torna uma fuga. O caminho do meio traz o equilíbrio na maior de todas as artes: a vida.



Adriano Rizk
Tarólogo e Psicoterapeuta Transpessoal



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

PRIORIDADE: O TEMPO DE PRINCIPIAR



Nessas férias, durante cerca de 20 dias fiz caminhadas ininterruptamente. Não parei um dia sequer, pois eu tinha medo de que, no dia seguinte, eu tivesse dificuldades para dar continuidade. Esse medo paralisava minha confiança em mim mesmo e poderia ter gerado problemas sérios, se eu não o tivesse identificado a tempo.

O físico indiano Amit Goswami em seu livro O Universo Autoconsciente, traz a expressão DO-BE-DO-BE-DO, retirada do desenho Scooby Doo. Nela temos os verbos (em inglês) “to do” que significa fazer e “to be”, que literalmente traduzimos como ser/estar. Que tal substituí-la por FAZER-SER-FAZER-SER-FAZER? Ou, considerando meu exemplo acima: CAMINHAR-DESCANSAR-CAMINHAR-DESCANSAR-CAMINHAR?

Nosso corpo também precisa de repouso. Toda atividade física, só gera resultados quando lhe permitimos seu tempo de descanso, senão podemos contrair lesões por estresse muscular. Na pausa, há a apropriação do FAZER com o SER.

Há cerca de 10 anos, uma frase surgiu em minha mente: “O importante é o que importa”. Inicialmente, achei engraçadinha e tive a impressão de não dizer muita coisa. Mas ela continuava martelando em minha cabeça, até que comecei a perceber sua profundidade e passei a me questionar se eu estava servindo aos propósitos de minha alma.

Nessa semana, uma pessoa que trabalha por conta própria me disse estar com um volume muito alto de trabalho (sim, na contramão de nosso dito momento econômico – como ela não está na sintonia da crise, tem aumentado seu número de clientes). Sugeri que elencasse prioridades e ela me respondeu que tudo era prioridade. Opa! Alerta vermelho!

Quando tudo for prioridade, nada será prioridade! E sem prioridades, as sensações de angústia e de incapacidade de dar conta de tudo assumem o controle.

Proponho observarmos a palavra PRIORIDADE através da expressão latina A PRIORI, também sinônima de A PRINCÍPIO. Desse modo, fica mais fácil percebermos o aspecto de início nelas presente, além de que princípios nos remetem a valores intrínsecos, a coisas importantes. E o que poderia ser mais importante do que servir aos propósitos de nossa própria alma?

Prioridade não significa necessariamente descartar coisas, mas sim principiá-las de acordo com a ordem de importância, assumindo responsabilidade para com nossa própria vida. Assim, inicia-se um fluxo onde cada coisa se encaixa em seu lugar e no momento adequado, tornando-se mais fácil, inclusive, eliminar o que de fato precisa ser descartado, sem a necessidade de sofrimento.

Muita gente, por exemplo, considera prioritário ganhar dinheiro e deixa a saúde para o final da lista. E o resultado é: ganha-se dinheiro e gasta-se em remédios. Já quem cuida da saúde, abre-se mais facilmente ao fluxo da alma, atraindo prosperidade. O dinheiro se torna uma consequência natural quando seguimos a voz de nosso coração.

Importante também é o ócio criativo. É muito comum vermos pessoas que trabalham tanto, que não têm tempo para ganhar dinheiro ou, o que é pior, para empregá-lo de acordo com os propósitos da própria alma. Fazer bom uso do dinheiro é um exercício que a alma escolhe para trazer equilíbrio à vida.

Com prioridades bem estabelecidas, vivemos melhor o tempo certo de cada coisa, sem pré-ocupações e gasto de energia desnecessários. O FAZER-SER-FAZER-SER-FAZER é uma poderosa ferramenta para estabelecer a harmonia: honrar a necessidade de nossos momentos de ação, intercalados com os de repouso, é entrar em sintonia com os batimentos do coração.

Adriano Rizk
Tarólogo e Psicoterapeuta Transpessoal
psicoterapia-transpessoal.com