A
DIFERENÇA ENTRE AJUDAR E SERVIR
Em minha adolescência, tive uma professora de português a quem eu
fazia uma enxurrada de perguntas a cada nova aula. Ela sempre estava
disposta a ajudar, desdobrando-se para atender a todas as minhas
solicitações.
Poucos anos depois, fui pedir ajuda a um professor de história:
fiz-lhe uma pergunta e ele me disse que eu mesmo deveria ir pesquisar
a resposta, já que no mundo nem sempre haveriam professores à minha
disposição. Naquele momento fiquei indignado com sua atitude,
afinal eu achava que aquela era sua obrigação.
Hoje, enxergo claramente a diferença entre as posturas de cada um: a
professora de português me ajudou (permitindo que eu me tornasse um
aluno preguiçoso) e o professor de história me serviu (estimulando
que eu mesmo buscasse meus caminhos).
Ao ajudar outra pessoa, partimos do princípio de que ela precisa de
algo, como se fosse menos capaz de conseguir por si própria. É
comum ao pedinte colocar-se na condição de vítima, enquanto quem
ajuda se coloca, mesmo que inconscientemente, como superior. Desse
modo, quem ajuda, está reforçando a falsa incapacidade do pedinte,
e o resultado é que o desgaste para suprir a necessidade alheia faz
com que perca sua própria energia. Mesmo porque quem é ajudado uma
vez, habitua-se ao conforto de receber a ajuda e provavelmente pedirá
novamente, novamente, novamente...
O servidor tem outra consciência: ele se percebe como um canal de
energia. Seu papel é apropriar-se de sua própria energia,
honrando-a sem desperdiçá-la. Por isso transita entre doar e
receber, sem se fixar em qualquer uma dessas polaridades, com
equilíbrio e compaixão tanto pelo seu momento como pelo momento do
outro. Ele é um provocador, que enxerga o outro como sendo tão
capaz quanto ele próprio, percebendo que todas as relações
envolvem trocas: o outro aprende com ele, assim como ele aprende com
o outro. Meu professor de história não se recusou a responder minha
pergunta: ele apenas percebeu que eu estava me identificando com a
figura do pedinte.
Os verdadeiros servidores se enxergam como mestres, inclusive por
entenderem que a maestria está à disposição de todos, ou seja,
todos somos mestres. A percepção do momento é fundamental: um
professor pode estar mais apropriado de determinadas in-formações
do que o aluno, mas isso não significa que seja melhor que ele:
simplesmente o momento de ambos é diferente!
Voltemos ao professor de história: naquele momento sua atitude me
revoltou, no entanto baixada a poeira, pude me dar conta de que
aquela situação transformou minha vida, já que me fez enxergar que
é muito mais interessante eu buscar o aprendizado por mim mesmo do
que depender da verdade dos outros, que pode inclusive não fazer
sentido para mim. Ele se mostrou um servidor porque me tratou de
igual para igual, fez com que eu me sentisse capaz de encontrar minha
própria verdade.
Diante disso tudo, fica mais fácil percebermos que o foco de quem
ajuda está no outro, não em si próprio, o que causa perda
energética. Já o verdadeiro servidor concentra-se em si mesmo, não
de forma egoísta, mas com a sabedoria de que ao cuidar de si
próprio, sua energia emana consciência para o mundo todo. E
consciência gera ainda mais consciência.
Ao expressarmos amor por nós mesmos, nós nos tornamos servidores do
amor universal. E o servidor tem a consciência de que ensinar é
estimular que o aluno se aproprie de sua inata capacidade de
aprender.
Adriano Rizk
29/11/2015