Você já notou que
uma mesma piada pode ser extremamente engraçada quando contada por
uma pessoa e sem graça por outra? Por que isso acontece? Já ouviu
falar em tempo da comédia?
Como ator, a busca
por tais respostas me levou a estudar a linguagem artística do
palhaço. Em determinado momento como artista, percebi que eu sempre
acabava buscando um tom cômico aos personagens que eu representava,
até mesmo aos mais dramáticos. Esse tempo da comédia, ou seja, a
medida exata de se relacionar com o público ao contar a piada,
sempre foi o meu foco de estudo com o palhaço, embora eu soubesse
que por esse caminho eu poderia me apropriar melhor de uma
experiência que também me abriria ao tempo do drama. Opa... Na
verdade minha pesquisa real era pelo TEMPO pura e simplesmente.
Desde criança, meus
tempos eram mais longos quando comparados aos de meus amiguinhos; demorei muito para aprender a amarrar o cadarço de meus sapatos,
demorei a me livrar das rodinhas adicionais da bicicleta, e o mais
interessante: parecia impossível aprender a ver as horas no relógio
de ponteiros – eu achava que nunca ia conseguir. Hoje fica bem mais
fácil compreender que naquele momento, quando eu tinha por volta de
5 anos de idade, eu expressava a ansiedade e o medo de não
conseguir, o que dificultava tudo.
O que parecia uma
eternidade naquela época, hoje vejo que não passava de alguns dias.
Naquele momento, minha referência era exclusivamente a experiência
do outro e aquilo roubava minha energia a ponto de eu me sentir
incapaz. A percepção sobre o tempo do menino de 5 anos é
totalmente diferente da percepção do adulto de hoje e isso não é
problema!
Mas voltemos ao
teatro. Há dois nomes importantíssimos no cenário teatral: o russo
Constantin Stanislavski, com sua teoria mais visceral, que propõe o
envolvimento do ator com o personagem; e o alemão Bertolt Brecht,
que traz o distanciamento como o caminho para uma presença em cena
com mais consciência (inclusive substituindo a palavra personagem
por persona – remetendo-nos mais a um estado de espírito). É
comum ouvirmos entendimentos de que um é favor do drama e o outro é
contrário a ele.
Não dá para ser a
favor ou contra algo natural. O drama faz parte da vida. A arte por
si só, enquanto metáfora da vida, prova isso: não existem artes
cênicas sem dramaturgia, sem o drama (é importante não
confundirmos drama com melodrama). E na vida a questão não é a
existência ou não do drama e sim nossa capacidade de transitar
entre o envolvimento e o des-envolvimento em relação a ele.
Portanto, as teorias
teatrais aqui rapidamente expostas não podem ser consideradas
opostas, mas complementares: se não houver envolvimento, como é
possível dar vida a um espetáculo? Se não houver distanciamento,
como é possível separar o artista de sua arte? A questão é
encontrar a medida exata de cada uma, o tempo de cada uma. Tempo?
Sim: TEMPO É A ARTE DA PERCEPÇÃO.
O teatro é uma
ótima escola de percepção (não é à toa que a palavra teatro
signifique o que se vê). Uma apresentação teatral nunca é igual à
outra porque cada nova sessão é uma experiência energética
diferente. Quanto mais o ator se apropria da energia envolvida, mais
consciência tem em cena.
Trazendo essa
metáfora do teatro para nossa vida cotidiana, e tendo em vista que a
palavra ATOR nos remete à ação, que tal nos observarmos como
atores de nossas próprias vidas? Será que não nos envolvemos
demais ou dramatizamos exageradamente determinadas situações?
Diante de um
problema, o envolvimento excessivo nos cega e o distanciamento
demasiado se torna uma fuga. O caminho do meio traz o equilíbrio na
maior de todas as artes: a vida.
Adriano Rizk
Tarólogo e Psicoterapeuta Transpessoal